CURSOS LIVRES DE MÚSICA

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A HISTÓRIA DA MÚSICA E SUAS FORMAS - modernidade

MODERNIDADE.

A música de nosso século coloca-se em contato, à sua maneira, com a multiplicidade e a complexidade dos aspectos da vida moderna. A partir da riqueza de suas propostas, também ela dá mostras de ser contraditória, inquieta e, às vezes, muito angustiante. Em uma época atormentada, em que a maioria dos velhos conceitos é relativizada, a própria música resolve colocar-se em questão. Assim, ela discute profundamente os pressupostos da sua própria linguagem, indicando sempre novas maneiras de pensar o espaço sonoro, agora visto como um universo em perpétua expansão.
Entre as estéticas mais radicais do século encontra-se o dodecafonismo, inaugurado por Arnold Shoenberg na década de 1920 e desenvolvido de imediato por seus discípulos Alban Berg e Anton Von Webern. Ao instaurar esse revolucionário sistema composicional - processo que estabeleceu a igualdade entre todos os sons, abolindo a antiga hierarquia - Schoenberg operaria uma transformação no panorama musical apenas comparável às levadas a cabo por Beethoven, que deu a partida ao movimento romântico. Talvez por isso Shoenberg tenha sido considerado sempre um músico "maldito", pois que ousou reformular toda a linguagem musical. Contrapondo-se a  essa estética, o neoclassicismo (Prokofiev na União Soviética, Malipiero na Itália, Hindemith na Alemanha, Poulenc e seus amigos na França , Vila-Lobos no Brasil, etc.) esforçou-se em recuperar procedimentos da música antiga, tentando fazer com que a História andasse ao invés.
Quase ao mesmo tempo, surgiram novas ondas de um nacionalismo não mais de raiz romântica (de Falla na Espanha, bartok na Hungria), paralelamente à tendência de encarar a música como uma arma política (Shostakovich na URSS, Eisler e Weill na Alemanha, Dallapiccola na Itália). Por outro lado, a vontade de abolir a pretensa "seriedade" da música erudita foi colocada em prática, de maneira dadaísta, por Satie, enquanto que compositores como Ives e Varése operavam experimentações notadamente personalista.    

Dentro desse quadro do qual apontam-se aqui apenas alguns traços, sobressai a figura de Igor Stravinsky. Iniciando-se à sombra dos nacionalistas russos e dos impressionistas franceses, ele logo proporia obras espetacularmente "bárbaras" por colocarem o ritmo em evidência.
Depois, refugiar-se-ia por longos anos em um neoclassicismo abandonado no final de sua vida, quando enfim adotou o dodecafonismo de Schoenberg.
Sua serpenteante trajetória é bem uma vívida metáfora da música de nosso século.

Igor Stravinsky (1882-1971) escreveu a sonata para piano em 1924, durante o seu discutido período neoclassicismo. Nessa época, o compositor dedicava-se à investigação de vários momentos do passado musical do Ocidente, utilizando muitas vezes nessa aventura ora a "máscara" da paródia, ora as armas da ironia. Na Sonata, Stravinsky empregou principalmente elementos provenientes do Barroco e do Romantismo, dois momentos históricos que ele fez questão de reunir em uma mesma partitura.
Em seus movimentos externos, é lembrada a antiga maneira de escrever música para cravo; na seção central, é feita uma dupla homenagem: a Bach e a Chopin, que aí se encontram sob o prisma do humor.

Anton Von Webern (1883-1945) compôs as quatro Peças para violino e piano, Op. 7 em 1910, momento em que a música já assumira radicalmente a atonalidade, espaço sonoro no qual não havia mais referências à harmonia tradicional.
Essas peças, como já se disse uma vez, parecem concentrar todo um romance em um só suspiro.

Concisas ao extremo, são como que delicados epigramas que encarnam o som em sua própria materialidade. Esses sons gotejantes, por sua vez são colocados em relevo por expressivos silêncios, aqui tomados em pé de igualdade com a matéria que chega aos nossos ouvidos. Música extremamente clara, ela é, por outro lado, difícil de ser ouvida, já que aponta para um futuro que mal adivinhamos.

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