CURSOS LIVRES DE MÚSICA

domingo, 20 de setembro de 2015

A HISTÓRIA DA MÚSICA E SUAS FORMAS - pós-romantismo

PÓS-ROMANTISMO.


No final do século passado, grande parte da atividade musical européia dividia-se em dois blocos opostos: um que encarava Wagner como a essência mesma da música progressista, outro que via em Brahms o expoente máximo da música  verdadeiramente digna - clássica, enfim.
Influenciados por Wagner, compositores como Richard Strauss levariam a música até as margens da tonalidade; seguindo o exemplo de Brahms, artistas como Max Reger retornariam as formas antigas, dando início a uma tendência que, mais tarde, consolidar-se-ia no neoclassicismo. Por outro lado, houve uma nova radicalização no sentido de se firmarem linguagens nacionais, contrapondo-se à hegemonia germânica. Albeniz na Espanha, Janaceck na Checoslováquia, Mascagni na Itália e Elgar na Inglaterra foram alguns dos muitos responsáveis pelo ressurgimento do sentimento nacionalista em seus países.
Essa "crise" da música fim-de-século pode ser vista como uma crise da própria linguagem musical.
Pois dois dos principais pilares sobre os quais ela assentava-se desde o Barroco - a tonalidades e as formas simétricas - entraram aí em processo de dissolução, apontando para o seu avesso: o mundo da a tonalidade e o das formas abertas, em perpétua expansão. A música desse momento que agora parece-nos mais criativa viveu agudamente tais contradições, explorando-as em obras que, em sua época, muitas vezes foram taxadas simplesmente de "decadentes". Na verdade, muitas delas apontam, a um só tempo, para o passado e para o futuro: por um prisma, trazem as marcas de um romantismo assumido até o ponto máximo de saturação; por outro prisma, já prenunciam certos traços que haveriam de ser alguns dos mais marcantes da modernidade.
Durante o Pós-Romantismo, assiste-se à exacerbação dos meios expressivos, responsável pelo surgimento de obras desmesuradas como as enormes sinfonias de Gustav Mahler e os gigantescos poemas sinfônicos de Richard Strauss.
Essas obras baseavam-se não apenas no alargamento e na deformação consciente dos esquemas formais abordados, como também na ampliação da próprias fontes sonoras colocadas em jogo - orquestras mais para estádios do que para salas de concerto... Simultaneamente descobriu-se que o timbre, a "cor" do som podia ser encarado como elemento informativo, tomado em pé de igualdade com a própria melodia. Isso fez com que a música passasse a se assemelhar a vitrais (Mahler) e a pinturas pontilhistas (Debussy). E ao lado do ultra-refinamento do estilo, levado a cabo por Ravel, presenciou-se ao gradual esfacelamento da tonalidade, presente tanto em Alexander Scriabin quanto no jovem Arnold Shoenberg.

Claude  Debussy (1862-1918), considerado por alguns um mero "impressionista" que mal sabia alinhavar idéias musicais, foi um desbravador que jamais deixou de olhar, de maneira criativa, para o rico passado do mundo dos sons. Assim, ao lado de obras revolucionárias por suas inovações, escreveu outras nas quais buscou captar a tradição que considerava a mais viva. Esse é o caso de Dieu, qu'il a fait bom regarder! Do ciclo três canções de Charles d'Orléans, de 1898-1908. Seu texto bem antigo fala, de forma sempre apaixonada, das belezas de uma mulher. Nessa peça, a harmonia moderna e a escritura vocal arcaica ressuscitam o clima da velha arte do tempo de Janequin.


Richard Strauss (1864-1949) viveu de maneira tão intensa o clima "outonal" da música do final do século passado que, até a sua morte, jamais conseguiu desprender-se dele inteiramente. E se boa parte de sua produção exemplifica a tendência ao monumental, outra faceta sua coloca-nos na intimidade de uma personalidade repleta de sutilezas. Sua canção Morgen! (amanhã!), sobre versos de Mackay e datada de 1894, é notável pela introversão e pela vontade de fazer com que o piano "cante" tanto quanto a própria voz. Canção que explora ao máximo as possibilidades desse gênero tipicamente germânico, Morgen! É como que um último adeus ao romantismo. Seu texto fala da certeza do reencontro de um par de amantes em meio à natureza ensolarada.

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