ROMANTISMO.
O Romantismo tomou conta de quase todo o século XIX, através de várias
ondas sucessivas de artistas altamente criativos, donos de prodigiosa
imaginação. Acompanhando o movimento geral das outras artes e procurando
aproximar-se delas pelo maior número de ângulos possíveis, a música desse
período foi marcada pelo individualismo e pela subjetividade. Muitos de seus
compositores tornaram-se autênticos revolucionários; outros sonharam bem mais
do que escreveram; e a maioria deles via em Beethoven uma figura mítica de
patrono que, uma vez, havia demonstrado a possibilidade do artista ser livre.
Quase todos os grandes compositores dessa época buscaram novas formas
de expressão a fim de simbolizar, através delas, os seus sentimentos mais
íntimos, mais indefiníveis. Com isso, nasceram no campo orquestral o poema
sinfônico e as aberturas baseadas em programas literários. No domínio dos
instrumentos solistas, apareceram peças ora curtas, como breves confissões, ora
esparramadas, de caráter rapsódico ou improvisatório. O Romantismo foi
sobretudo a época do compositor- virtuose, a um só tempo profeta e herói desses
novos tempos anunciados pela Revolução Francesa. Escrevendo suas obras e encarregando-se
de apresentá-las diante do público, eles conseguiram abrir novos espaços não
apenas de expressão como também de trabalho remunerado.
Nunca, em tempo algum, vida e arte andaram tão juntas e às vezes tão
misturadas quanto no Romantismo. E o desejo de liberdade expresso por alguns
dos seus principais artistas fez com que compositores de muitos países se
voltassem para as suas músicas nacionais, fazendo com que a arte do Ocidente
passasse a falar um considerável número de coloridos dialetos...
Os românticos ampliaram a maioria dos campos da composição musical,
notadamente no plano da harmonia, que com eles se tornou mais rica e cheia de
sutileza. E a vontade de fazer com que a música passasse a dialogar com outras
artes fez nascer não apenas a música de programa como também a canção artística
e, sobretudo, o drama musical.
Este, no fundo, era uma nova radicalização da ópera, vista agora como
um espetáculo situado entre áreas diversa, espécie de obra de arte total que
fundia teatro, poesia, dança, artes plásticas e, não por último, música.
Shubert e o seu lirismo inovador, Shumann e a sua repetição da
personalidade, Liszt e as suas ousadias harmônicas, Wagner e os seus projetos
revolucionários, Berlioz e a sua nova orquestra, e Chopin e o seu plano intraduzível
são algumas das muitas personagens da aventura romântica.
Franz Shubert (1797-1828) foi possivelmente o maior inventor de
melodias da nossa civilização mostrando através delas a sua sensibilidade
profundamente lírica. Muitas de suas obras instrumentais, no fundo, são
prolongamentos do espírito lírico que alimenta os seus lieder, as suas canções.
Isso acontece com o Andante com moto pertencente ao Trio em mi bemol maior, Op.
100, escrito para piano, violino e violoncelo no final do penúltimo ano de sua
vida. Aí, sobre o ritmo inicial de uma marcha lenta, Shubert colocou uma ampla
melodia, constantemente retomada, que viaja por tonalidades maiores e menores,
em um percurso sempre muito atraente, onde não faltam nuanças e sutis
surpresas.
Através de Frédéric Chopin (1810-1849) e de alguns de seus colegas de
geração, o piano passou a ser visto como um instrumento auto-suficiente, capaz
de desvendar os múltiplos meandros do universo interno do compositor. Para o
seu instrumento predileto, ele compôs obras ao mesmo tempo livres e
equilibradas, inovadoras e também cativantes a uma primeira audição. Como em
nenhum outro artista romântico, em Chopin o piano canta melodias sem palavras,
armando um mágico mundo feito de suaves transparências e de violetas mudanças
de ânimo. Essas características, aliadas ao ímpeto emocional, estão presentes o
estudo em dó sustenido menor Op. 25, nº7, publicado em 1837.
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