RENASCIMENTO.
O Renascimento, em música, é o tempo da polifonia sobretudo vocal, das
belas construções nas quais as vozes se entrelaçam. Algumas das obras desse
período são tão complexas que lembram sonoros e rebrilhantes labirintos.
Durante essa época, a música extremamente intelectualizada da Igreja Católica e
a música profana alegremente voltada para os prazeres da vida influenciam-se
mutuamente.
Com isso surgem formas musicais novas e, principalmente, a idéia
revolucionária de que a música pode ser tomada como um linguagem feita por
seres humanos para seres humanos e não mais apenas como um veículo para colocar
o homem em contato com Deus.
Durante a Renascença aparecem, ao lado das composições sacras (missas,
motetes, etc.) danças novas, agora escritas com maior rigor e em uma enorme
quantidade de fórmulas, algumas das quais sugeridas pelos próprios
instrumentos. Mas a forma musical mais especificamente renascentista foi mesmo
o madrigal polifônico, canção para ser cantada por várias vozes distintas. Seu
aspecto final era dado pelo texto literário escolhido para ser musicado e na
sua construção podia entrar um número bastante variável de linhas melódicas, de
algumas poucas a várias dezenas delas. O madrigal utilizava o que se chama de
"escrita imitativa": cada linha melódica espelhava-se em outra ou,
então, "respondia" a uma
"pergunta" feita. Notáveis nesse polifônicas) de fundo naturalista,
que recriavam musicalmente refrões ouvidos na rua, encontros e desencontros
amorosos, ruídos de batalhas e vozes da natureza.
Os inícios do renascimento musical encontram-se entre os mestres que
produziram na França e nos Países Baixos, os franco-flamengos que compunham durante
a primeira metade do séc. XV, como Dufay e Binchois. Suas descobertas foram
ampliadas pelas gerações seguintes, notadamente por Ockeghem, Josquin de Prés e
Obrecht. Durante o séc. XVI o madrigal atinge o seu apogeu (Janequin,
Palestrina, Lassus) sobretudo na Itália, enquanto que na Inglaterra florescem
os pequenos grupos instrumentais. Estes, por sua vez, davam início à vocal, que
teria repercussão na História da Música.
O final do Renascimento é marcado por algo a que já se chamou de
"maneirismo", responsável por obras especialmente complexas e,
algumas vezes, bastante exageradas. Esse é o instante em que se descobre a
música estereofônica, conseguida através da utilização de vários conjuntos de
vozes e como fizeram Andréa e Giobanni Gabrieli em Veneza. Esse também é o
momento em que alguns compositores - como Gesualdo, o príncipe de Venosa -
escreveram de forma tão torturada que, ainda hoje, sua música soa-nos
espantosamente moderna.
A figura cosmopolita de Guilherme Dufay (c.1400-1474) marca a passagem
da Idade Média para o Renascimento. Pai da Escola Flamenga, foi talvez ao maior
compositor que a história da música conhecera até então. Soube assimilar
genialmente as técnicas de composição de vários países, criando o modelo
perfeito da missa polifônica, escrita a várias vozes e toda construída sobre um
único material base - em geral, uma melodia do Canto Gregoriano . La Dolce
Vista (o doce olhar) é uma das suas 80 canções profanas que, ao lado de mais de
120 obras sacras conseguiram chegar até nós.
Nela, a escrita a três vozes é levada a um extremo grau de refinamento;
seu texto, uma singela declaração de amor, parece não Ter sido escrito por
Dufay.
O espírito alegre do Renascimento é representado de maneira magistral
por Clément Janequin (c.1485 - 1558), o principal compositor do gênero chanson,
forma francesa aparentada à do madrigal italiano. Suas mais conhecidas canções
polifônicas, com vozes sobrepondo-se umas às outras, são bastante descritivas.
Este é o caso de Le Chant des oiseaux (o canto dos pássaros0, indiscutivelmente
um dos maiores sucessos da época. Ao comando do compositor, que pede para que
os ouvintes acordem, que pede para que os ouvintes acordem, já que é primavera,
assiste-se a um verdadeiro "concerto ornitológico", com a sucessão de
inumeráveis passarinhos cantando à maneira renascentista, ou seja,
polifonicamente.
Durante a Renascença, a música instrumental desenvolveu-se grandemente,
sobretudo na Inglaterra. Nesse país, várias gerações de compositores
entregaram-se a esse campo, produzindo obras em geral escritas sobre motivos de
danças ou motivos religiosos, notáveis pela transparência da sua trama
polifônica. Exemplo disso é Browning de Elway Bevin, baseada em uma canção
folclórica, tanto conhecida como the leaves be green quanto Browning, mandam.
Ela foi destinada a um pequeno conjunto de três violas de gamba, esses antigos instrumentos de cordas que,
para serem tocados, devem ser segurados entre os joelhos dos intérpretes.
Percursos das modernas orquestras de cordas, tais conjuntos chamavam-se, então,
consort of viols.
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