CURSOS LIVRES DE MÚSICA

terça-feira, 15 de setembro de 2015

A HISTÓRIA DA MÚSICA E SUAS FORMAS - idade média

IDADE MÉDIA.


A igreja Católica foi a principal responsável pela reunificação da Europa, após a queda do Império Romano. E para cristianizar os povos, utilizou-se inclusive de uma forte arma: a música. A história da música Ocidental, portanto, inicia-se exatamente dentro da Igreja, onde os textos sacros passaram a receber música. Mas seus primeiros exemplos influenciados pela música de várias culturas como a judaica, a greco-romana e a dos primitivos povos europeus perderam-se para sempre. Isso porque a representação gráfica dos sons através de partituras só seria aperfeiçoada bem mais tarde.
Música sacra medieval por excelência é o canto Gregoriano ou Cantochão, organizado pelo papa Gregório (540-604). Esse gênero de música tornar-se-ia um dos mais requintados e sábios produtos da nossa cultura. O canto Gregoriano é uma sucessão de longas melodias cantadas em conjunto por padres e fiéis no interior das igrejas, integrando as cerimônias religiosas. Suas curvas suaves e o seu tom declamatório produzem uma atmosfera quase hipnótica.
Durante vários séculos, o Cantochão foi monódico, quer dizer, possuía uma única linha melódica cantada em uníssono, sem qualquer tipo de acompanhamento. Depois, principalmente a partir do séc. XI passou a ser empregado em experiências polifônicas, com várias vozes distintas sendo sobrepostas umas às outras.
As vidas do Santo, as Canções de Gesta, os Dramas Litúrgicos, os Autos Profanos, assim como várias formas de dança, também são frutos da Idade Média. Entretanto, foi no domínio da canção que essa época nos deixou exemplares de uma beleza tão forte que é capaz de nos emocionar ainda hoje.
A partir do séc. XI várias gerações de poetas-cantores dedicaram-se a esse gênero. Através de canções, eles faziam declarações de amor ou de escárnio, protestavam contra a guerra ou contra o nobre, falavam da natureza e dos sentimentos que alimentam os homens de todos os tempos.
Grandes compositores de canções foram os trovadores provençais do Sul da França. Estes seriam, pouco mais tarde, seguidos pelos troveiros do Norte da França e pelos Mestres Cantores das regiões germânicas. Até mesmo os primeiros poetas da Literatura Portuguesa sofreram a sua influência.
É que, contrapondo-se ao seríssimo universo da música sacra feita para colocar os fiéis em contato com Deus os trovadores profanos desenvolveram, como disse Ezra Pound, "uma arte entre a literatura e a música", extremamente voltada para as dores e também para os prazeres da vida.

Belo exemplo de Canto Gregoriano é puer natus est nobis (um menino nos nasceu), que serve de introdução solene à terceira das missas do Natal, a luminosa Missa do dia. Comemorando o nascimento de Jesus, esse cântico foi escrito sobre um modo eclesiástico - antiga escala de sete sons - então considerado alegre, jubiloso. Nele, uma antífona retirada de Isaías enquadra um curto versículo do livro dos Salmos. Apesar de seus primeiros manuscritos datarem do séc. X, sabe-se que essa música é bem mais antiga. Seu texto diz: "Um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a sabedoria repousará sobre seus ombros e ele se chamará Anjo do grande conselho. Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele operou maravilhas".

O Canto Gregoriano exerceu grande influência sobre a música profana medieval. Prova disso é Pax in nomine Domini! (paz em nome do Senhor!) de Marcabru, um dos mais antigos trovadores provençais do Sul da atual França, que produziu durante a primeira metade do séc. XII. A canção faz referências a uma cruzada contra os mouros e seu texto vai da súplica a Deus à condenação dos homens, que o poeta-músico considerava "degenerados". Crítico violento dos costumes de seu tempo, Marcabru foi descrito assim, em uma saborosa biografia surgida depois de sua morte:
'Foi muito famoso e andou pelo mundo e foi temido por sua língua e foi tão maldizente que finalmente o mataram os castelãos de Guyenne, dos quais havia dito muito mal".


Kanenda Maya (primeiros dias de Maio) é outra canção trovadoresca bastante peculiar. Por um lado, baseia-se em uma dança, uma movimentada estampida que o compositor parece Ter ouvido no castelo de Montferrat, tocada por um grupo de músicos em suas vielas, seu texto trata de dois dos mais queridos temas dos artistas da Provença: o amor cortês, no qual o trovador sublimava a sensualidade ao colocar-se diante da amada como um vassalo, e a chegada da primavera, instante de renovação da natureza e de revigoração da forças vitais. Seu autor é Raimbaut de Vaqueiras, do qual pouco se sabe, além do fato de Ter vivido entre o final do séc. XII e o início do século seguinte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário