fonte: R7
Você provavelmente nunca ouviu falar de Lukasz Sebastian Gottwald, também conhecido por Dr. Luke. Mas certamente já ouviu suas músicas.
Ele foi responsável por alguns dos maiores sucessos das carreiras de Britney Spears, Shakira, Katy Perry, Miley Cyrus, Flo Rida, Rihanna, Kesha, Kelly Clarkson, Pink, Kelis, e muitos e muitos outros nomes famosos do pop atual.
Nos últimos dez anos, Dr. Luke, 41, só teve um rival à altura em número de músicas no topo da parada da “Billboard”: seu mentor e parceiro, o sueco Max Martin (Backstreet Boys, Taylor Swift, Kelly Clarkson, Maroon 5, Britney).
No fim de 2014, Martin emplacou sua 18ª música no número 1 da “Billboard”: “Shake It Off”, de Taylor Swift. Isso o tornou o terceiro compositor com mais “números 1” da história, atrás apenas de Paul McCartney (32) e John Lennon (26) e à frente de Michael Jackson, Elton John e Stevie Wonder.
Já Dr. Luke, como produtor, tem 16 músicas que lideraram as paradas da “Billboard”, o que o torna o segundo nome de maior sucesso da história, atrás apenas de George Martin, produtor dos Beatles, com 23.
O sucesso de Dr. Luke pode ser explicado de uma maneira muito simples: ele faz exatamente o que seu público-alvo quer.
Esse público-alvo é o jovem de 14 a 22 anos, que começou a consumir música numa era em que CDs já eram obsoletos, só ouve “singles” e nunca discos inteiros, ouve música em fones de ouvido e tem uma capacidade de atenção menor que a de um peixe de aquário (segundo estudos recentes publicados pelo Centro Nacional de Biotecnologia dos EUA, a capacidade de atenção – o tempo em que a pessoa consegue se concentrar em algo até ter a atenção desviada para outra coisa – caiu de 12 segundos em 2003 para oito segundos em 2013, um segundo a menos que o "attention span" de um peixe).
Ou seja: a música de Dr. Luke precisa ter um “hook” (“gancho”) a cada sete ou oito segundos, uma qualidade sonora ribombante, para soar grandiosa em fones de ouvido (daí o uso excessivo de compressão), e não pode perder tempo até chegar ao refrão. Dr. Luke diz ser fã do tecnopop dos anos 80 de Duran Duran e Tears for Fears, mas acha que essas bandas tinham um defeito grave: “Elas demoravam muito a chegar ao refrão”.
A revista “The New Yorker” fez um perfil interessante de Dr. Luke (leia aqui). Ele foi um adolescente problemático e chegou a vender drogas. Começou a tocar guitarra em conservatórios e foi guitarrista da banda do programa de TV “Saturday Night Live”.
Mas sua vida mudou depois de conhecer o sueco Max Martin, que lhe ensinou os segredos para produzir uma canção de sucesso. Luke aprimorou uma técnica quase matemática de composição e produção, que inclui tabelas com os intervalos entre versos e refrães e uma maneira peculiar de escrever letras, em que essas não precisam, necessariamente, fazer sentido, contanto que todos os versos tenham não só o mesmo número de sílabas, mas uma cadência idêntica em todas as frases.
A técnica é extremamente eficaz, especialmente numa época em que o analfabetismo funcional do público chegou a níveis alarmantes. Basicamente, as pessoas leem e ouvem frases e podem decorá-las e reproduzi-las, mesmo que não façam sentido algum. Aliás, é até melhor que não façam sentido. Dá menos trabalho.
As músicas tampouco devem ter introduções longas, ou até abrir mão de introduções e já começar com um vocal.
Antigamente, as músicas pop tinham introduções mais longas, para que os DJs de rádio pudessem falar por cima delas e anunciar as canções. Hoje isso acabou. Uma recente matéria do jornal “The Wall Street Journal” mostra que, de 25 canções do topo da parada pop, apenas quatro tinham uma introdução maior que dez segundos, e oito nem introdução tinham. Já começavam com o vocal.
A técnica de Dr. Luke para criar astros envolve o controle total sobre suas carreiras. Quem acha que ele, enquanto produtor, trabalha para artistas como Kesha e Katy Perry está equivocado. Elas é que trabalham para ele. Literalmente. Luke contratou as duas, decide o que elas vão gravar e como vão gravar, e ganha um percentual sobre tudo que elas faturam.
Ano passado, Kesha anunciou que iria gravar um disco com o Flaming Lips. Dr. Luke não deixou, e o projeto foi abortado. No fim de 2014, Kesha processou Dr. Luke, acusando-o de abuso sexual. Ele a processou de volta, dizendo que a acusação era só uma desculpa para ela tentar anular seu contrato.
O esquema de divulgação das produções de Dr. Luke é, ao mesmo tempo, simples e poderoso. Assim que termina de produzir uma faixa, ele manda um link da canção para seus artistas e pede que esses tuítem as músicas uns dos outros.
Considerando que Katy Perry tem 68 milhões de seguidores no Twitter, Rihanna tem 43 milhões e Britney tem 41 milhões, além de Pink (27 milhões), Kelly Clarkson (17 milhões), Miley Cyrus (20 milhões) e outras, isso significa que a canção será ouvida, simultaneamente, por centenas de milhões de pessoas. Deve ser o esquema de divulgação mais poderoso e fulminante da história da música.
O futuro da música chegou e se chama Dr. Luke. Conforme-se.
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